três.

sexta-feira, julho 18

Ódio e ópio aos Anjos



Da guerra, do vasto, do uniformemente desconexo, impróprio, pulsante e intenso, via pouco. Urgia-lhe desfazer-se daquela vasta massa de tons pastéis, a agonia em sons abafados por um vento atemporal. Desejava ver-se livre da batalha antes que seus ferimentos o tornassem sujo ou, possível, terrivelmente humano.
Depois, silêncio. Era do fundo do mesmo firmamento claro e volátil que muitos saíam. Incrivelmente, não tinha compaixão pelos que ficavam, respeitando-os por um possível resquício de consciência.
As cicatrizes desvaneciam-se à medida que suas asas desligavam-se das entranhas das nuvens. Arrastava-se incapaz de soltar-se dali, o medo da queda e milhões de outros devaneios transformando sua mente em uma luz inflame, ofuscante. A força... A força...
E qual não era a surpresa ao descobrir que o inferno também era ocupado por a
njos. Para eles, nada mudaria enquanto a guerra continuasse, não importando o lado pelo qual era lutada. Os caídos, esses perguntavam-se quando viriam os outros. Talvez desejassem. Talvez os ditos puros desejassem que quedas ocorressem entre eles.
Ele mesmo, secretamente, ainda era capaz de desejar alguma coisa.
Entre batalhas pinceladas, os mortais, sempre volúveis, pouco importavam enquanto em pequena quantidade. Erguia-se uma muralha vistosa entre o que anjos ou homens diziam de vida ou morte, partindo-se do princípio de que mortais, ao morrerem, poderiam tornar-se soldados e anjos, ao caírem, poderiam tornar-se mortais.
Carregavam, porém, uma gota do Delírio em cada pena. A consciência inexistia na maioria. O
contato entre mundos dera-lhes sentimentos humanos, que contrastavam com a incrível tendência à insensibilidade de um soldado sacro. Sua sanidade perdia-se aos poucos.
Desesperava-se novamente. Queria esmagar seu existir entre as mãos, contraindo os olhos fechados e escondendo a cabeça entre os braços. A eternidade era tão imensurável que certamente venceria sua teimosa existência.
Ouviu um forte ruído assemelhando-se, aos poucos, ao tom do ruflar frenético de asas incontáveis, negras ou alvas, a aproximar-se. Não precisavam de justificativas e, paradoxalmente, ele sabia por quê.

Seria a loucura usual da autodestruição, como cometer seu suicídio ou dar do ódio e ópio aos anjos.

4 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Contrair os olhos? Só anjo, mesmo...
Mano, já te disse que adoro essas suas imagens (não a imagem, imagem. As narradas. Aliás, a imagem, imagem também), começando logo cedo pelo lance dos tons pastéus. :~

Anônimo disse...

Nossa incrivel, muito bom mesmo, uma leitura realmente adoravel.
Eu a saudo senhorita Nani^^.

Teu leal admirador Bardo.

Prodígio disse...

Eu li, mas nem consegui/vou conseguir comentar =D. Já disse no coment anterior que seus textos são... incríveis [2] :~.