três.

quinta-feira, julho 31

A (não)-coragem de conceber um texto

Extremamente solitário. Sentia-se assim por não saber por que assim se sentia. Isolado em seu quarto que não era seu, sentava-se por horas frente ao computador em tentativas vãs de fazer com que ele penetrasse a rede mundial por alguma conexão já existente. Nada feito.
E também olhava para o aparelho celular: não tocava. Um vazio preenchia-lhe o peito porque sabia que aqueles que tentassem um contato trariam mais e mais notícias ruins e ele, desesperado por um pouco de afeto familiar, comentaria banalidades em tons risonhos.

Então, decidiu não querer outra noite em prantos e suspiros sufocados pelo travesseiro colorido. Já estava confirmada, a notícia de que ela morrera. Por que não considerar suficiente seu sofrimento anterior e desviar o pensamento toda vez em que seu peito desmoronava? Era loucura, não? Controlar-se dessa forma como se a realidade fosse fantasia e a fantasia... Bem, essa não parecia existir.
Era ofensa, a fantasia existir. Ofensa contra todas as coisas vivas ou... Que já foram vivas.

segunda-feira, julho 21

A Salsicha Feiosa

Escrito provavelmente na minha segunda série do fundalmental (há dois números de telefone no verso de uma das folhas na forma antiga e, quando mudaram os números, eu estava na terceira. Logo, acreditando não ter escrito tal obra com sete anos, apostei mesmo na segunda série.). Meu bom estilo de pontuação pode causar estranhezas, mas aposto que ninguém diria nada se eu fosse famosa.
Copiei do jeito que estava, só passando "Pink" pra "Pinky". Ah, e não há plágio, apenas homenagens! (Hahaha)

Era uma vez uma caixa de salsicha, e uma salsicha feiosa.
Num belo dia, uma menina muito arteira, teimosa e curiosa que se chamava Felícia, comprou a caixa de salsichas. E ela tinha dois ratinhos: Pinky e Cérebro. Cérebro sempre quis dominar o mundo e Pinky, seu irmão, era o seu ajudante, mas sempre no fim da história eles acabavam se dando mal. Então eles planejaram envenenar todas as salsichas do mundo, foi quando Felícia, ao comer um cachorro quente, passou muito mal, tendo uma diarréia danada.
E todos que comiam salsichas passavam muito mal e os únicos que tinham o remédio certo que curava a doença chamada salsípia era o Pinky e o Cérebro, mas alguns dias depois Felícia mexeu nas coisas do Cérebro e encontrou o remédio, como ela era uma menina curiosa bebeu tudinho e como só era para beber uma gota ela virou um monstro bem grande e feioso.
Quando Cérebro viu quase teve um infarto do coração, correu para a sua gaiola e procurou, procurou o remédio para fugir, mas não achou, aí ele olhou para o chão e encontrou o vidro do remédio, foi lá pegar correndo mas logo quando ele chegou na gaiola ele viu que só estava lá o vidro e não o remédio e deu um grito tão alto que acordou o monstro, o monstro destruiu tudo coisa por coisa só deixou a caixa de salsichas. Aí ele começou a ouvir gritos que vinha da caixa de salsicha que dizia: "socorro socorro".
O monstro correu para lá e viu uma salsicha diferente de todas, uma salsicha feiosa. Que pulou em cima dele, o monstro começou a esperniar, esperniar, e derubou a salsicha feiosa e ela correu para a gaiola dos dois ratinhos e todos tremiam como se tivesse um terremoto dentro da gaiola, mas Cérebro teve uma idéia, pegou a receita do remédio, ele e seu irmão correram até a porta, a salsicha feiosa salvou os seus irmãos e também correu até a porta, e então todos fugiram para longe da casa. Aí eles entraram num hotel abandonado e lá construíram um laboratório secreto, encontraram uma solução para o caso da Felicia, e enquanto isso, o monstro foi à praia da cidade e como não tinha o que comer resolveu então comer peixes (os maiores que tinham).
Todos na praia saíram correndo, e depois de uns 90 segundos a polícia e um monte de gente estava lá.
Uma menina chamada Mariana começou a chorar e seu pai, Marcos, pegou ela no colo e saiu correndo, sua mãe, Marta, foi atrás correndo e gritando:
- Ai meu Deus me salve, por favor me salve! Ahhh!
E a polícia começou a atirar no monstro e ele, o monstro, saiu nadando até uma ilha cheia de frutas e frutos. Enquanto isso Cérebro estava preparando o remédio e Pinky estava "fuçando" nas coisas, achou uma bola de cristal e sem querer acordou a fada adormecida, Elisa, que tinha o apelido de Sisa.
Ela disse que podia realizar só um desejo e a salsicha logo percebeu que aquela fada era uma bruxa. Aí ela falou ao Pinky:
- Corra! Corra daquela bruxa.
Pinky sem nem desconfiar disse:
- Bruxa? Aonde? A fada nos ajudará!
Então A Salsicha Feiosa colocou seus irmãos junto com Cérebro, Pinky com a cura da Felícia dentro de um barril, empurraram ele por dentro, saíram rolando e conseguiram escapar.
Ninguém estava entendendo nada. Só a salsicha.
De repente o barril parou e explodiu. Era a fada, ou melhor, bruxa.
Já pela risada dela todos perceberam que ela era uma bruxa.
Por sorte ou por azar o monstro apareceu bem na hora. O monstro reconheceu os ratinhos e começou a brigar com a bruxa, de-repente a bruxa explodiu deixando todas as suas riquezas.
Todos ficaram aliviados, inclusive a salsicha feiosa.
Por sorte ninguém viu nada, imagine ter que explicar tudo aquilo.
Cérebro deu o antídoto para a Felícia voltar ao normal.
Agora Felícia muito agradecida por todos parou de fazer suas travessuras e sempre brinca com a salsicha feiosa, seus irmãos e os ratinhos, eles agora são todos grandes amigos.



Bom... Pouco a comentar. Talvez eu fosse melhor ao estruturar o enredo: Introdução, conflito, aparente resolução, conflito, resolução e desfecho. Ah, geniozinho... (Altos níveis de ironia).
Não precisam jogar na cara que escreviam melhor com oito anos. Aliás, precisam, mas esse texto foi meu orgulho literário por alguns anos.

sexta-feira, julho 18

Ódio e ópio aos Anjos



Da guerra, do vasto, do uniformemente desconexo, impróprio, pulsante e intenso, via pouco. Urgia-lhe desfazer-se daquela vasta massa de tons pastéis, a agonia em sons abafados por um vento atemporal. Desejava ver-se livre da batalha antes que seus ferimentos o tornassem sujo ou, possível, terrivelmente humano.
Depois, silêncio. Era do fundo do mesmo firmamento claro e volátil que muitos saíam. Incrivelmente, não tinha compaixão pelos que ficavam, respeitando-os por um possível resquício de consciência.
As cicatrizes desvaneciam-se à medida que suas asas desligavam-se das entranhas das nuvens. Arrastava-se incapaz de soltar-se dali, o medo da queda e milhões de outros devaneios transformando sua mente em uma luz inflame, ofuscante. A força... A força...
E qual não era a surpresa ao descobrir que o inferno também era ocupado por a
njos. Para eles, nada mudaria enquanto a guerra continuasse, não importando o lado pelo qual era lutada. Os caídos, esses perguntavam-se quando viriam os outros. Talvez desejassem. Talvez os ditos puros desejassem que quedas ocorressem entre eles.
Ele mesmo, secretamente, ainda era capaz de desejar alguma coisa.
Entre batalhas pinceladas, os mortais, sempre volúveis, pouco importavam enquanto em pequena quantidade. Erguia-se uma muralha vistosa entre o que anjos ou homens diziam de vida ou morte, partindo-se do princípio de que mortais, ao morrerem, poderiam tornar-se soldados e anjos, ao caírem, poderiam tornar-se mortais.
Carregavam, porém, uma gota do Delírio em cada pena. A consciência inexistia na maioria. O
contato entre mundos dera-lhes sentimentos humanos, que contrastavam com a incrível tendência à insensibilidade de um soldado sacro. Sua sanidade perdia-se aos poucos.
Desesperava-se novamente. Queria esmagar seu existir entre as mãos, contraindo os olhos fechados e escondendo a cabeça entre os braços. A eternidade era tão imensurável que certamente venceria sua teimosa existência.
Ouviu um forte ruído assemelhando-se, aos poucos, ao tom do ruflar frenético de asas incontáveis, negras ou alvas, a aproximar-se. Não precisavam de justificativas e, paradoxalmente, ele sabia por quê.

Seria a loucura usual da autodestruição, como cometer seu suicídio ou dar do ódio e ópio aos anjos.

quinta-feira, julho 10

Chá

Tomado por qualquer melancolia, descobriu-se a observar alguns gatos através da janela. Não lhe pertenciam, deixando-o levemente incomodado ao utilizá-los como distração.
Fazia, na verdade, apenas alguns minutos que se sentara àquela mesa. Redonda, de toalha bem colocada, de talheres prateados e um, apenas um, bule - como de costume, era claro - entre eles.
Prendeu-se ao bule, mental e fisicamente. Enquanto observava a viagem do café em expressão amena, estendia o olhar até o outro lado da substância. Era humano, talvez como ele, mas não certamente.
O bule reencontrava-se no centro da mesa. Ele aspirou o vapor do café: Era chá, e os felinos não mais ali estavam. Ouviu, então, vozes, comprovando que aquele do outro lado protestaria sua volta ao mundo de ações, onde pensamentos vigoravam apenas como lendas.
Era a velha mania de perder-se atrás dos olhos, desfocando rostos e atos - num ocasional, de forma permanente. Alegrava-lhe o conto de que esse permanente viria desfazer outras permanências e, por certo, piorar situações. Alegrava-lhe saber que a rotina logo viria fantasiada de inusitado para ele desesperar-se e, quando conformado, notar o disfarce e voltar ao modorrento não-sentir.
Havia mania ali, não havia? Era feliz assim, torturando-se. Fazia-se seguro e encobria sua face pueril com pesadas e ilusórias marcas de expressão. Desenhava sulcos em sua própria pele - boca, olhos, testa - para não precisar movê-la porque, secretamente e de qualquer forma, não saberia como.
A voz voltou a protestar. Certo, respiração compassada e olhar frívolo para fazê-lo feliz diante de sua mãe, a presença do outro lado do bule. Adorava ver aquele sorriso morrer. Vamos, mãe, sorria outra vez.