três.

terça-feira, novembro 11

Meus adeuses e um outro causo

Olha que à escola me seguiu o beija-flor, e de nada desconfiei, nem quando o vi desesperar-se entre as paredes. Apenas matei meu sorriso preocupada, pobrezinho, Só encontra a janela se ali o deixarem e vê que será apenas quando topar com alguma parede para lhe tirar a consciência.

Ah, beija-flor, agora te vejo à minha janela como de costume, ao entardecer, indeciso entre os postes de energia e uma árvore cuja espécie não me chama a atenção. Compreendo só aqui e agora: eras tu, azulzinho, de cauda bifurcada e inerente à minha existência nesta cidade!

Por que não me avisaste? A rotina de um pássaro pouco se assemelha à de um bicho como eu. Ter-te-ia avisado. Talvez não fôssemos tão semelhantes, sabes?, como te disse daquela outra vez.  Aquilo da outra falei tão somente porque estava feliz, e tens o mesmo direito de sentir felicidades e palpitações bem perto de teu coraçãozinho como eu sentia quando falavas comigo.

Ainda assim, meu beija-flor, não me queiras mal. Minha mãe, aquela de quem também já te falei, ela às vezes dizia que mais valem as semelhanças e compatibilidades. Eu mesmo sou incompatível contigo porque poucas flores alcanço, enquanto que o dono de minha escola ainda não resolveu plantá-las pelas paredes com as quais trombaste hoje de manhã.

Parece um adeus, não? Talvez o seja. Então, que fique aqui o aviso: não mais apareças sobre estes fios de alta tensão para papear. Ou isso, ou cerro minha janela pelos próximos dois anos, e mais triste te será bicar o vidro todas as tardes do que voar raramente pelas minhas bandas, tendo relances de meus sorrisos, desses que eu dava quando ainda sonhava semelhanças e futuros esquecidos.