Olha que à escola me seguiu o beija-flor, e de nada desconfiei, nem quando o vi desesperar-se entre as paredes. Apenas matei meu sorriso preocupada, pobrezinho, Só encontra a janela se ali o deixarem e vê que será apenas quando topar com alguma parede para lhe tirar a consciência.
Ah, beija-flor, agora te vejo à minha janela como de costume, ao entardecer, indeciso entre os postes de energia e uma árvore cuja espécie não me chama a atenção. Compreendo só aqui e agora: eras tu, azulzinho, de cauda bifurcada e inerente à minha existência nesta cidade!
Parece um adeus, não? Talvez o seja. Então, que fique aqui o aviso: não mais apareças sobre estes fios de alta tensão para papear. Ou isso, ou cerro minha janela pelos próximos dois anos, e mais triste te será bicar o vidro todas as tardes do que voar raramente pelas minhas bandas, tendo relances de meus sorrisos, desses que eu dava quando ainda sonhava semelhanças e futuros esquecidos.