três.

domingo, janeiro 20

Ainda sobre a Chapeuzinho...

- Você tem mesmo a chave?

Ela era pequena, notável, ainda tinha feitio de menina. Mechas pesadas de um loiro apagado cobriam sua testa e pequenos ombros. Seu cheiro de criança tomava o rapaz em total delicadeza enquanto andavam, e ele ainda sorria incrédulo da ingenuidade dela.

- Você não está me enganando, está?

Pararam frente a uma porta corroída e ele pousou a lanterna no chão.

- Eu? – sorriu, uma onda de ternura atravessou-lhe o peito. – É claro que não, minha pequena.

Ela reagiu instantaneamente ao rapaz, como ele esperava que fizesse. Envolveu-lhe o rosto ossudo e mal-barbeado com as mãozinhas de esmalte gasto, espantou qualquer receio e deixou que a beijasse nos lábios frágeis e vivos.

Ele abriu a porta um pouco mais nervoso – era realmente uma pena que não pudessem ficar juntos.

A cama na qual se deitaram exalava cheiro de mofo como todos os outros móveis daquele lugar. Os lençóis pareciam ter sido trocados recentemente.

O rapaz passou a alisar extasiado o cabelo da garota. Focalizou seus olhos nos dela e sentiu toda a culpa do que viria a fazer. Com a mão, fechou-os.

Todos os abismos entre eles fizeram-se ausentes, exceto os quinze anos de vantagem do rapaz nesse mundo. De qualquer maneira, aquele pequeno corpo, o qual tomava, já poderia gerar seu filho.

Ela dormira. A culpa frisou-se com a chuva e noite profunda. Ele verificou as horas e a lâmina.

Depois de silenciosos minutos, notou preocupado que na única chave também restava um pouco do sangue.
Perdeu-a ao tentar limpá-la na enxurrada
.

2 comentários:

Anônimo disse...

Medo, medo, medo, medo, medo, medo, medo... o____o Tadenha da menenenha... Mas cara, o personagem é envolvente! Gostei! :D
Continue, ou terer que te espancaaaar >:D

Guilherme Augusto disse...

De fumante viciado a pedófilo assassino? Hohoho, tô gostando... :D